Segue o texto escrito pelo Dr. Gonzo em um de seus projetos acadêmicos:

Entretanto, em obras como Medo e delírio em Las Vegas, o próprio Thompson classificou essa tentativa de concretização do jornalismo gonzo como fracassada:
Minha idéia era comprar um bloco de anotações bem grosso e registrar a coisa toda enquanto ela acontecia, e em seguida mandar as anotações para a publicação – sem edição. Desse jeito, imaginei, o olho e a mente do jornalista funcionariam como uma câmara. O texto seria seletivo e necessariamente interpretativo – mas, uma vez que a imagem fosse registrada, as palavras seriam definitivas. Da mesma forma qe uma fotografia de Cartier Bresson é sempre (de acordo com ele) um negativo de quadro inteiro. Nenhuma alteração no quarto escuro, nada de cortes ou aparadas, nada de procurar erros, nada de edição (2004, p.46).
Mesmo tendo essa definição de que o jornalismo gonzo deve ser feito enquanto as coisas acontecem, Thompson justifica que a sua tentativa foi fracassada porque “no final das contas, acabei impondo uma estrutura essencialmente ficcional ao que começou como uma peça jornalística convencional/maluca” (2004, p.46).
Entretanto, vale ressaltar que nem sempre os autores são as melhores pessoas para analisar a própria obra. Mesmo tendo essa definição de que o jornalismo gonzo deve ser feito enquanto as coisas acontecem, Thompson justifica que a sua tentativa foi fracassada porque “no final das contas, acabei impondo uma estrutura essencial-mente ficcional ao que começou como uma peça jornalística convencional/maluca” (2004, p.46). Partindo dessa concepção, pode-se dizer que o jornalismo gonzo é muito mais difícil de ser praticado do que se imagina, porém, há algumas características que podem ser apontadas como possível a realização desse tipo de jornalismo.
Enquanto, em uma análise superficial, alguns podem considerar que tudo é jornalismo gonzo, Thompson aponta algumas características que devem estar presentes nesse tipo de reportagem. Ou seja, não basta apenas usar recursos da literatura no jornalismo, bem como não pode se valer apenas da literatura e da ficção para narrar a história real:
Gonzo requer os talentos de um mestre do jornalismo, o olho de um artis-ta/fotógrafo e os colhões firmes de um ator. Porque o escritor precisa parti-cipar da cena enquanto escreve sobre ela – ou pelo menos gravá-la, ou mes-mo desenhá-la. Ou as três coisas. Provavelmente a analogia mais próxima do ideal seria um diretor/produtor de cinema que escreve seus próprios roteiros, faz seu próprio trabalho de câmara e de algum modo consegue filmar a si mesmo em ação, como protagonista ou pelo menos um dos personagens principais (THOMPSON, 2004, p.47).
Já Pena (2006, p.56) define o jornalismo gonzo como um “estilo de reportagem, caracterizado por um envolvimento pessoal com a ação que estava descrevendo, sem medir conseqüências, por mais perigosas que fossem”. Além disso, Pena (2006) cita que uma técnica defendida por Thompson para que a matéria rendesse era xingar o interlocutor, caso a entrevista não estivesse levando a lugar nenhum. Essa técnica foi feita com os motoqueiros do Hell’s Angels, que também se tornou livro. O autor conviveu com os motoqueiros por um ano e meio e, em meio à convivência, tomou uma grande surra que o deixou no hospital, como Thompson conta no Posfácio da obra: “No Dia do Trabalho de 1966, abusei um pouco da sorte e apanhei feio de quatro ou cinco Angels que pareciam achar que eu estava me aproveitando deles” (THOMPSON, 2010, p.341).

Como ressalta Lage (2005), o texto jornalístico de narração é a sucessão de ver-bos de ação. De acordo com ele, quando o autor se reporta ao mundo real, ele está no modo indicativo, que corresponde à série cronológica dos eventos, e quando se refere a mundos possíveis, precedidos de alguns verbos proposicionais significa que estão no modo subjuntivo. “A série de núcleos verbais com verbos de ação, um re-metendo ao outro, dispostos linearmente conforme a ordem dos eventos, constitui o esqueleto da sequência narrativa” (LAGE, 2005, p.52). Além disso, o autor acrescenta que sequências podem ser adicionadas umas às outras, havendo contigüidade no tempo ou não. “Pode-se mudar o ambiente ou manter o mesmo. É possível introduzir novos personagens e novos enfoques” (LAGE, 2005, p.53). Ele acrescenta que as boas narrativas jornalísticas geralmente são produzidos após um longo tempo de maturação, citando obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Mesmo com a utilização de um estilo marcado pelo humor, Thompson cumpre a função de narrar o evento na qual estava cobrindo ao leitor:
A sala estava repleta de barbas, bigodes e roupas da moda. Estava claro que a Conferência dos Promotores Públicos tinha atraído um belo contingente de agentes disfarçados e outros tipinhos suspeitos. Um promotor assistente de Chicago vestia um colete de tricô marrom-claro. Sua mulhera era a estrela do cassino do Dunes; desfilava pelo lugar como Grace Slick numa reunião de estudantes do Finch College. Um casal típico; por dentro das últimas tendências (THOMPSON, 2010, p.155).
Considerando características apontadas por teóricos sobre a prática jornalística, pode-se considerar o texto de Thompson como jornalístico, pois ele informa e descreve a reunião que acontecia em Las Vegas sobre o uso de entorpecentes, inclusive, denunciando que muitos dos participantes, vindos de todas as regiões dos Estados unidos, lá estavam mais a turismo do que a serviço. Além disso, o texto de Thompson apresenta características do texto jornalístico apontadas por Cotta (2005), pois ele comunica algo de forma acessível à informação e é coletivo e social. Entretanto, o texto de Thompson apresenta algumas particularidades que diferem dos demais tipos de textos jornalísticos, o que torna o jornalismo gonzo um tipo de jornalismo possível de ser praticado.
Sobre o que se refere ao estilo de texto, é possível apontar algumas características gerais presentes no jornalismo gonzo:
1) Narrativa em primeira pessoa: o autor participa da notícia e deixa isso explí-cito ao leitor.
2) Utilização do humor: o humor está sempre presente, muitas vezes disfarçado de ironia.
3) Opinião: o jornalista participa da ação e emite opinião sobre o fato.
4) Uso de palavrões: na maioria dos textos de Thompson o palavrão é um recurso, principalmente para caracterizar o humor do texto.
5) Linguagem clara: o jornalista utiliza linguagem coloquial, de fácil compreensão.
Entretanto, o que caracteriza o jornalismo gonzo como um tipo de jornalismo, e não um estilo, é que o texto é apenas um dos seus elementos de prática jornalística. Além do texto, tem-se outras etapas do processos de produção. Uma constante na narrativa de Thompson é o uso de drogas ilícitas, entretanto, não será considerado esse item como essencial, no presente estudo, para a prática do jornalismo gonzo.
A partir das considerações apontadas anteriormente, entende-se como jornalismo gonzo aquele que:
1) O jornalista participa da notícia no ato de apurá-la;
2) Há a presença de humor;
3) A narrativa é em primeira pessoa;
4) Há o uso de palavrões.
Feita essa teorização, tenta-se-a aqui colocar em prática isso que, teoricamente, defino como um tipo de jornalismo.
COTTA, Pery. Jornalismo – teoria e prática. Rio de Janeiro: Rubio, 2005.
LAGE, Nilson. Teoria e técnica do texto jornalístico. Rio de Janeiro: Eslevier, 2005.
PENA, Felipe. O jornalismo literário nas imagens de Freud e Lacan: por uma teoria psicanalítica do
Jornalismo. Revista de Ciências da Comunicação, São Paulo: Intercom, v. 32,
THOMPSON, Hunter. A grande caçada aos tubarões. São Paulo: Conrad, 2004.
THOMPSON, Hunter. Hells angels. Porto Alegre: LP&M, 2010.
THOMPSON, Hunter. Medo e delírio em Las Vegas. Porto Alegre: LP&M, 2010.
THOMPSON, Hunter. Reino do Medo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
THOMPSON, Hunter. Rum: diário de um jornalista bêbado. Porto Alegre: LP&M, 2010
porra alemao! esse diario de um jornalista bebado parece ser bom. mas nao seriam nossos blogs algo parecido a isso?
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